sexta-feira, 3 de julho de 2009

Barra - O Sonho Perdido

Vim com meus pais morar na Barra em 92, mais precisamente no Itanhangá, vindo do Leblon, naquela época um bairro bem mais pé no chão e classe média do que hoje, supervalorizado por seguidas novelas escritas pelo Manoel Carlos. Lembro das subidas que fazíamos, atrás de ondas melhores que as merrecas do posto 12, rumo ao meio da Barra, ou em alguns casos, Macumba ou Prainha. O acesso ao Lagoa Barra, hoje pela enorme Mario Ribeiro (obra realizada no primeiro Rio Cidade), era feito por aquela rua da escola estadual Andre Morrois. Depois que abria o sinal, era o início de uma viagem que só parava quando desligávamos o carro. Antes que alguém associe viagem "àquilo", esclareço logo que após o sinal do Andre Morrois não havia mais nenhum até a Barra. Você ia direto pra todos os lugares, sem sinais, uma pequena viagem, portanto. Ao longo da Av das Américas, sobressaíam alguns condomínios, o Barrashopping e os hipermercados (Freeway, Paes Mendonça, estes hoje pertencentes ao Grupo Pão de Açúcar, Bon Marché e Carrefour). Onde hoje existe o Downtown e Citta America, havia um enorme mangue. Do Barrashopping ao Recreio então, era ainda menos ocupado. Naquele ano, por conta da realização da Rio 92, deram uma recapeada boa no asfalto, pois algumas atividades diplomáticas aconteceram no longínquo Riocentro. Morador do Itanhangá, Rio das Pedras era um lugar distante, de que ouvíamos falar, e a Tijuquinha se resumia à oficina mecânica e algumas poucas construções. O surf e o jiu jitsu eram os principais "ways fo life" do jovem típico da Barra. A night era a New York, New York (onde hoje tem aquela concessionária da Volvo), Olympizza ou Alô Alô Café, lá no final da Sernambetiba. Os mais alternativos iam no Teatro de Lona, ver uns shows de reggae. Eu particularmente ia para os showzinhos na PUC ou Circo Voador.
O que quero dizer com essa nostalgia toda é que, sendo a última área da cidade a ter sido ocupada, a Barra teve todas as chances se ser um lugar diferente do resto do Rio, livre dos vícios e mazelas que tanto maltrataram, e continuam maltratando, a cidade. Infelizmente, ao invés de se criar algo novo, que pudesse servir de exemplo para futuras gerações, não mais do que incorporamos ao bairro o que o Rio tem de pior: trânsito, favelização, sinais, pedintes, assaltos, degradação ambiental, vans, prostituição e desordem de todo tipo. A incompetência, a permissividade, a ganância (de políticos e construtores), a corrupção, a falta de visão e de planejamento condenaram, em muito pouco tempo, uma região que sonhou um dia ser a Califórinia brasileira. E se olharmos o quanto de área livre bem ou mal ainda existe na região (onde provavelmente um mega condómínio será erguido), podemos projetar, se é que isso é possível, um futuro ainda pior para quem mora no bairro.
O político brasileiro em geral é um grandissíssimo f!#$% da p&*¨%. No caso específico do Rio, coloquemos o elogio a décima potência. Nunca se antecipam ao problema, pelo contrário, só tomam, quando tomam, alguma atitude, quando ultrapassam-se todos os limites do aceitável.
Já temos hoje uma demanda hiper-reprimida por metrô até, pelo menos, o Recreio. Se tivéssemos uma classe política descente, além de já existir metrô lá, já estariam sendo feitas obras de escavação para levar futuramente o metrô à áreas ainda mais distantes, como Mangaratiba, Campo Grande, etc. Não temos um anel metroviário completo, como em SP. Porém, após inúmeros adiamentos, prometem a estação do Jardim Oceânico (ou seja, praticamente um prêmio de consolação) para 2014!
A politica de transportes, em todas as esferas do poder, é repugnante. Privilegia os poderosos cartéis de ônibus e vans (um câncer inventado pelo Garotinho), verdadeiras máfias infiltradas no poder. Enquanto o metrô não sai, ficamos reféns de engarrafamentos cada vez piores, provocados por uma explosiva combinação de vans, piratas ou não, ônibus (idem), carros e mais carros (a Barra é campeã em carros/per capta), tudo isso devidamente temperado com um excessivo número de sinais, que se extendem até o Recreio. Eu tenho o hábito de xingar o Cesar Maia regularmente, por tudo de ruim que ele trouxe pro bairro, principalmente quando fico preso nos engarrafamentos. Não duvido que tenha xaveco pra ter tanto sinal e pardal espalahados pela Av das Américas. Vindo do Sr. Pan/ Cidade da Música, não duvido de nada. O mais correto para o bairro seria adotar as highways americanas, com saídas marginais e retornos por baixo da pista principal. Ok, tá valendo até botar uns pardais, mas os sinais tinham que desaparecer, e o trânsito ia ser menos tortuoso.
E nossos canais e lagoas? Como podem ser tão caras de pau e não dar um basta nessa degradação? Que potencial econômico jogado literalmente no esgoto! O compromisso com a miséria é o maior aliado da corja política que nos representa. Onde há miséria não há educação, nem cidadania. Não há senso crítico, não há formação intelectual, pré condições essenciais justamente para NÃO eleger esses m#$%
A Barra pós Linha Amarela, Downtown e New York City Center é apocalíptica, uma babel de gente de todo tipo, com gargalos e mais gargalos no trânsito provocados por esses políticos f#$%¨da p¨%$#, que só fazem obra pra tomar um por fora, nunca pra promover a melhor fluidez dos veículos. Não sei bem onde vamos parar, com uma classe de eleitores cada vez pior, elegendo representantes idem.
Enfim, não dá pra esperar muita coisa, infelizmente. Aproveitemos esse restinho.

2 comentários:

  1. Brunno, nemmmm, adorei!!!! Concordo com tudo, em genero, numero e grau! Cidade tao linda que podia ser bem planejada, como pode um peixe vivo??!!? E a Barra eh um local tao amplo e cheio de natureza, completamente desestruturado e deteriorado ... Metro e vias expressas sem sinais, isso eh apenas o minimo que esses politicos poderiam fazer. Mas como mudar isso??? Te juro que eu gostaria de participar de algum movimento que pudesse fazer algo de concreto!!!

    Bjsssss Dani Cerq

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  2. Boa Dani,
    Desculpa a demora em publicar seu comentário, ainda estou me adaptando às ferramenasdo blog

    Bjs no casal

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