domingo, 5 de julho de 2009

Pobre DJ

Meu interesse por música eletrônica começou em 96. Naquela época eram poucas as opções pra quem quizesse ouví-la: tinha a Soul Rio, na Fundição (com aquela pistinha 2), a Val Demente (antes da cisão), a Dr. Smith e uma ou outra festinha particular. A figura do dj era algo hipnótico pra mim. O manuseio dos vinis (sim, eram apenas vinis), a construção do set, as mixagens, tudo isso me levou a um cursinho em Copa em 98. Ser dj profissional era um coisa que não passava pela minha cabeça. Mas, de apresentações despretenciosas para os amigos, aqui e ali, fui criando minha identidade como dj e cá estou, até hoje.
Neste tempo, pouco mais de 10 anos, o dj tornou-se uma peça tão descartável quanto as faixas digitais que toca. Se, por um lado, os arquivos digitais democratizaram o acesso a tudo que se produz, por outro tornaram a música extremamente descartável. Milhares de novas tracks são despejadas pelo Beatport a cada semana, não conseguimos mais nos apegar na pista àquela track f#$%¨, que poucos tinham o vinil. Acredito que faixas como "Pontapé", "Sunshine" ou "You Prefer Cocaine" não seriam os clássicos que são se fossem lançadas hoje.
Tínhamos núcleos bem constituídos: havia a galera do techno, do drum´n bass, do trance e do house. Creio que essa geração mais segmentada está saindo de cena (ou já saiu, deixando um ou outro remanescente). O público que paga a conta dos clubs atualmente tem valores e expectativas um pouco distintos daqueles que frequentavam a Cubic (Bunker) ou a Vibe (Lov.e). Essa galera chegou já massificada pelo minimal e não está muito a fim de descobrir p%$¨& nenhuma. Já está tudo descoberto e escancarado.
Do vinil ao mp3, muita coisa mudou neste concorrido mercado de trabalho. Se olharmos para trás, veremos que o terreno era fértil para novos djs. Rave não era a palavra demonizada pela opinião pública. Pelo contrário, era o frescor, a novidade, o novo entendimento sobre música, espaço e comportamento. Infelizmente, público e poder público contribuíram para jogá-la na marginalidade. Mas haviam várias raves, maiores ou menores, festas em locais não-óbvios, como no Terra Encantada, Rio Water Planet, nos sítios de Vargem Grande ou e galpões da zona portuária e arredores. Ao longo destes anos, o fascínio da e-music sobre as pessoas fez com que muitos se interessassem em ser djs, criando uma grande demanda por espaço. Porém, o que temos hoje? Um cerceamento feroz das autoridades, dificuldades cada vez maiores para realização de eventos, que se resumem aos bancados por grandes empresas. E como a crise chegou...
Como se já não bastasse a desgraça toda, aquele dj que se f%$#! todo pra aprender a tocar tem que encarar agora também a concorrência dos não-djs! São atores, músicos, produtores de moda e celebridades em geral que vêm bombando por aí, como seus sets bizarros de tudo o que é maluquice. E se eles estão bombando é porque o público não tá exigindo mais p#$%¨nenhuma. O dj hoje é só um detalhe, o povo quer é estar no hype!
Isso é bom? É ruim? Sei lá, a roda continua girando. Conselho que dou pra quem tá querendo ser dj é: esqueça o glamour, esqueça tudo o que você ouviu. A cabeça tem que estar aberta e preparada pra emendar direto em outras atividades que cercam o ofício como produção musical, trilhas, produtos customizados, etc. Ser dj hoje é alimentar um puta alter ego.

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