quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Procura-se um DJ

Extra! Extra! Crise de identidade assola os djs!
Já faz algum tempo, venho percebendo no público que frequenta a noite (do Rio pelo menos, onde meu campo de análise é mais nítido), uma profunda mudança de hábitos, e do seu próprio perfil.
Como já falamos aqui, a música eletrônica há muito não pertence mais ao underground, ela conquistou a alma (e o bolso) dos playboys, patricinhas e mauricinhos, novos ricos e ricos nem tão novos assim. Porém, como tudo na vida, esta conquista tem seu preço. Estilos que ajudaram a construir a cena, como o techno, o electro (o original, não esta baba que se vende por aí hoje em dia), ou até mesmo o tech house mais "cabeçudo', vem perdendo espaço nos clubs e festas, em detrimento de um som mais 'comercial'. Drum´n bass então.... passa longe.
Opa, mas como assim?! Simples, mudou o público, mudou a mentalidade dos donos de clubs e agências, eles perceberam pra onde está migrando o dinheiro. Tudo na vida é cíclico, gerações vêm e vão. Acho que a crescente participação das grandes empresas nos últimos anos, dando nome ou patrocinando festas, ajudou, ainda que inconscientemente, a condução deste público a formatos mais "caretas'; uma vez que, durante o mesmo tempo, cresceu na paralela o arrocho das autoridades sobre as festas independentes (raves), delimitando horários, impondo regras e condições. Seguindo este raciocínio (mero exercício especulativo), sonoridades que não se adequem a esta ordem, que não sejam 'sociais', vem sendo deixadas de lado. As grandes empresas não querem linkar seus nomes a eventos lisérgicos ou hard core. E como só se vê evento da marca A ou B hoje em dia, entende-se o perfil atual do público.
As raves tiveram uma importância histórica na constituição dos núcleos, formando grandes djs, apresentando ao público toda a diversidade que marcava a cena eletrônica da época; elas ajudaram a pavimentar todo o caminho até aqui. Infelizmente caíram na marginalidade. Mas que fazem falta, isso faz.
Se, por um lado, mudou o "ambiente de negócios" da e-music, por outro, mudou o público. Tomemos como exemplo a geração 'Bunker', aquelas testemunhas do nascimento e explosão da música eletrônica, lá pelo meio dos anos 90. Aquela galera que quicava ao som de Marky, Patife, Murphy, Ricardinho NS, Maurício Lopes (dos tempos de Cubik), Sven Vath (que lotava pistas por aqui) e outros tantos. Estão todos hoje, como eu, na casa dos 35, ou mais. Nem todos permanecem ativos na "naite", aliás quase ninguém. A não ser que você seja um profissional ligado a atividades alternativas, como moda, música, produção, etc, a regra é casar, ter filhos e ficar devagar, devagarinho, com o bpm lá embaixo. Os poucos que restaram renderam-se ao hype da Moo (indiscutivelmente uma das melhores festas já realizadas no Rio, que fique bem claro), primeiro na onda minimal, e depois na onda space disco. Pronto, morria ali qualquer chance de sobrevivência do techno, electro e afins.
A geração que se seguiu poderia manter a 'chama" acesa? Sim, poderia, mas percebo neles uma atitude, vamos dizer, mais conservadora em relação a música eletrônica e isso, obviamente, se reflete no som que gostam de ouvir. É uma geração que, graças aos excessos cometidos pela geração anterior (e que ajudou queimar o filme da e-music junto à opinião pública, zeloza por seus filhotes), parece se satisfazer com algumas doses de Wiborowa com Red Bull. Curtem aquele electro-house pop charola de David Guetta e similares como se não houvesse amanhã. O que pra mim é dance music, para a massa é "eletrônico, uhu!". Percebendo o cenário atual, os donos de clubs e festas vêm montando suas grades com essa pegada, fazendo com que djs de uma linha mais conceitual, mais fiéis às suas bandeiras, venham tendo que rebolar pra continuarem tocando; ou seja, adaptar seus sets a esta nova ordem, ou pelo menos, montarem sets alternativos aos seus trabalhos de origem.
Como dj, acho o seguinte: é deplorável, sob o ponto de vista artístico, você ter que se submeter a este tipo de coisa pra continuar tocando. Como já filosofava o Juarez Soares: 'Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa". O Murphy tem um set pro Clash e outro pra Nuth. Outra coisa completamentre diferente seria ouvir a Kammy tocando "Love Generation", só pra faturar algum. E o que mais tem é dj assim. Tô fora. Às vezes, nesta busca por espaço, pode até encontrar outras coisas com as quais também se identifica. É mais difícil, mas pode acontecer.
De tudo isso, algumas certezas:
1. O house atravessa gerações, passa incólume por qualquer tipo de ciclo que se estabeleça.
2. A cena gay não está nem aí pra crise. Assim como o funk carioca, não precisa estar na midia pra sobreviver. Tem causa e mundo próprio, é e sempre será fiel à bandeira house. Estes, pelo menos, não ficam pulando de galho em galho pra descolar uma gig.
3 - O Rio não tem mais cena, daquelas que se constróem no dia a dia dos clubs e inferninhos; tem sim uma avalanche de festas ao longo do ano, o que é bem diferente.

2 comentários:

  1. Entendo suas angustias, reflexoes e conclusoes... Quem sou eu pra discordar? Pessoalmente, acho que o povo sempre quer se divertir. Algumas pessoas procuram outras pessoas, outras procuram exorcisar os demonios na pista, algumas simplesmente estao a fim de ser "in" e outras - infelizmente a minoria - vai pela atracao, pelo som. Como diria a musica: "everybody`s looking for something". O lance eh que hoje o que era novidade ficou velho, o que era velho virou novidade e no meio disto tudo existem pessoas como vc e eu, que viveram o passado, vivem o agora e batem cabeca pra entender onde foi parar aquela sensacao foda que tinha a pista...Agora, dois comentarios: 1 - o house eh um som dancante, alegre e que flerta muito com o pop. De todos os generos, ele eh o que nasceu com a missao de ser puramente hedonista, celebratorio, daih acho que nunca vai morrer mesmo. 2 - Para mim a Delirio foi a melhor festa do Rio...Disparado!

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  2. Verdade, esqueci da Delírio. Mas vc vê como nego aqui vai pra onde o nariz aponta. A Delírio era uma festa totalmente diferente da Moo

    Abração hermano

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