sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Dejavu

Já tratei do tema aqui mas há certas coisas das quais não conseguimos nos desligar. Na última quarta feira, voltando de uma festa infantil (depois que se tem filhos, vc entra nesse circuito social) no Leblon, a caminho da Barra, por volta das 20:30, ouço um grito vindo do outro lado da rua: "Tá tendo arrastão no túnel! Arrastão no túnel!". No mesmo instante em que ainda processava a informação, lembrei-me de que minha esposa e filha haviam ido embora no nosso carro (estava com o carro da minha mãe). Com o coração na boca, liguei para ela e, para meu alívio, haviam pego a Av Niemeyer, que também não é lá essa tranquilidade toda mas que, naquele momento, era a melhor opção. No dia seguinte leio nos jornais que, segundo a VERSÃO OFICIAL DA PM, o pânico da população dentro do túnel (largando os carros, voltando na contra-mão, etc) era infundado, fruto do barulho do escapamento de algumas motocicletas confundidos com tiros. Tá bom. Para que se deixe bem claro, houve assalto a mão armada dentro do túnel sim. A queixa do rapaz que teve sua moto roubada entre as duas galerias está registrada na 16o DP (Barra). Vivemos agora a era da NEGAÇÃO dos fatos, com o objetivo de impedir a disseminação do pânico entre a população ou fazê-los esquecer, com o tempo, das coisas ruins que acontecem. Isso é perigosíssimo, pois mostra claramente a inércia, ineficácia e total falência dos órgãos de segurança.
Já falei aqui sobre este romântico factóide chamado UPP (Unidade de Polícia Pacificadora). O nome, mais um, é pomposo. O resultado prático disso começa a se apresentar: assaltos a prédios, sequestros-relâmpagos a motoristas, forçando-os a irem aos seus próprios apartamentos, arrastões em túneis, pedras atiradas em vias expressas e outras barbaridades regadas a doses cada vez maiores de violência e crueldade, típicos destas últimas gerações de fascínoras que povoam as "comunidades" (como político gosta dessa palavra!) da cidade.
Não é com UPPezinha na favelinha que se resolverão os problemas de violência. Isso é coisa pra inglês, e o COI, verem. É muito cômodo para o governador, que vive na Europa e tem viatura da PM 24h por dia na porta de casa, abrir aquele sorrisão e fazer o 'V' da vitória com os dedos. Mais uma vez, varre-se a sujeira para debaixo do tapete. Ninguém ousa combater as reais causas da violência nestes lugares: índice de natalidade incompatível com a renda, total ausência de valores familiares (é sempre aquela estória: o pai era traficante e morreu, a mãe é viciada em crack ou alcóolatra) e, principalmente, total ausência de Estado, provendo transporte, saneamento, educação e saúde.
Somos um país cretino, feito de homens públicos cretinos (em sua esmagadora maioria). Com a nossa cultura "carnavalesca", "tchanzesca" e "funkeira", estimulamos a sexualidade nas crianças desde cedo, mas nos chocamos com adolescentes tendo filhos a rodo e outros escândalos de ordem sexual. Nossa Constituição, e seu horrendo filhote ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), é uma síntese da pobreza política deste país: leniente com a ilegalidade, não pune, dá mais direitos do que deveres aos infratores da lei. Nosso sistema prisional é medieval, fábricas de criminosos em série. A corrupção, de tão entranhada, parece já fazer parte de nosso DNA. Pra se ver o QUÃO mais embaixo é o nosso buraco, do que simplesmente instalar UPPs por aí. Não há "cujones" para encarar o drama de frente. Só se empurra com a barriga.
Somos um país repleto de gargalos estruturais: não há malha ferroviária (presente em todos os países desenvolvidos), estradas perigosas e esburacadas, portos insuficientes, défcit escolar, saúde na UTI, sem contar a carga tributária extorsiva e a burocracia extenuante .
É com esse clima que estarão todos lá, Eduardo Paes, Sérgio Cabral e Lula, no próximo dia 02 de outubro, em Copenhagen, para a escolha da sede dos Jogos Olímpicos de 20016. Não é justo o que fazem com o povo, essa chantagem barata para conseguir apoio à causa, dando "em troca" o sonho e a esperança de que, um dia, possa usufruir de um metrô, ver minhas lagoas limpas, enfim, o tal legado dos Jogos. Como já vi esse filme no Pan...
TÁ PHODA!

2 comentários:

  1. Fazem 5 anos que meu avô morreu, e todo dia eu tenho certeza que as idéias dele são super atuais.
    Nada de novidade e nem solução milagrosa, apenas a boa e velha escola.
    Escola essa que o aluno chega de manhã e tem um bom café da manhã para tomar, porque sem alimentação ninguém aprende; escola essa que tem almoço, estudo dirigido e atividades extra-curriculares, o aluno vai embora pra casa as 15:00hs, almoçado e feliz.
    Muito se falou na época sobre o CIEPS, que seria jogar dinheiro fora, que melhor seria reformar as escolas que já existiam, outros governantes deixaram os CIEPS abandonados, pois não era o projeto do seu partido. Eu fico pensando...essa geração de bandidos que hoje está aí, como estaria se tivessem todos estudado nos CIEPS, em vez de bandidos, médicos, em vez de traficantes, advogados.
    O Brasil e o Rio de Janeiro só tem jeito atravéz da educação, já dizia meu saudoso avô Leonel Brizola

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  2. Fala Brunnão! Concordo contigo que não é a criação da UPP, por si só, que resolve esses problemas muito mais profundos, criados ao longo de décadas de governantes lamentáveis, que vai trazer a tranquilidade de volta ao Rio. Mas também não acho que os atuais Governantes locais (Prefeitura e Governo) acreditam que as coisas vão se resolver assim.

    Mas como morador de Botafogo, quase divisa com o Humaitá, posso testemunhar que o projeto que foi feito no Dona Marta foi extremamente benéfico tanto para a comunidade, quanto para nós vizinhos. Outro dia mesmo eu e a Dani fomos até a subida da favela, onde esperamos o elevador para subirmos no alto do morro, e ver o Rio lá de cima. O elevador demorou um pouco demais, e acabamos desistindo do passeio, mas indubitavelmente o que se via era uma comunidade pacífica, com crianças nas ruas, num clima super pacífico.

    É claro que nossos problemas, criados, como disse, ao longo de gerações de governantes populistas e aproveitadores, não se resolverão em 1 ou 2 mandatos, mas acho que esse governo (estadual e municipal, cada qual com sua competência) tem, ao menos, demonstrado uma salutar preocupação com o caos e desordem urbana, que assolam o Rio desde há muito. A UPP - não isoladamente, mas como uma ferramente importante dentro de um plano maior de combate à violência - me parece uma alternativa válida.

    Parabéns pelos posts! Estão ótimos!

    Abraços
    Felipe Qian

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