domingo, 18 de outubro de 2009

Choque de Realidade na Fantasia Oficial

Ia escrever sobre a guerra (mais uma) do Rio, mas encontrei este brilhante texto de Reinaldo Azevedo, que diz praticamente tudo.

"É tão esmagadora a propaganda oficial, com o seu triunfalismo boçal, que quase nos esquecemos de que os problemas do Rio continuam onde sempre estiveram. E sem solução. Pior: os termos da equação estão todos fora do lugar ou errados.
Ontem, enquanto o couro comia no Rio, uma senhora, com a autoridade de líder da “comunidade” — a palavra “comunidade”, nesses casos, quase sempre quer dizer a fachada legal do crime — concedia entrevista a uma TV e condenava, evidentemente, a Polícia. Também pedia mais investimentos sociais nas favelas. Segundo dizia, as crianças precisavam de alternativas de cultura, lazer etc e tal. Corolário: sem esse atendimento, elas se tornam adultas e derrubam helicópteros da polícia. Que vigarista!!!
Ora, claro que precisam. Até as dos condomínios de luxo precisam. Mas não tenham dúvida: sua fala era o fio da meada. Estepaiz, como diz aquele, vive preso à mitologia gerada pela falácia, inventada pelas esquerdas e adotada por todos os bocós, de que a violência e o crime têm origem da pobreza. Acham que isso é muito “progressista”. Em nome desta sociedade, falam, então, verdadeiros cafetões das “causas sociais” e suas ONGs: umas ensinam a bater lata; outras, a fazer versos de pés quebrado; outras, ainda, se dedicam a gerar toda uma subcultura do morro… A violência recebe camadas de glacê de discurso ideológico vagabundo. E só não se oferece à comunidade de verdade, à maioria de pessoas honestas que lá vivem, um pouco de lei e de ordem. É: lei e ordem.
“Como não? A Polícia não estava lá?” Resta evidente que já não consegue dar conta do recado. Não porque seja necessariamente incompetente, corrupta ou sei lá o quê. Mas porque o problema está além de sua capacidade de resposta. Sucessivos governos, não só o de Lula — mas notavelmente o dele — se negam a reconhecer que algumas áreas do país, especialmente o Rio, requerem uma ação concertada de governos federal e estadual no combate à violência — no caso, ao narcotráfico.
E não me refiro a esta bobajada de PAC. É claro que toda obra de urbanização ou de construção de aparelhos públicos numa favela é bem-vinda. Mas, se o Estado não leva Estado para o morro, a melhoria da infra-estrutura só vai tornar, vejam que coisa!, mais eficiente o trabalho dos bandidos. Uma quadra de esportes numa favela dominada pelo Comando Vermelho será uma quadra de esportes para o Comando Vermelho administrar. Uma escola de música num morro dominado pelos Amigos dos Amigos será uma escola de música para os Amigos dos Amigos administrarem. É tão simples. É tão evidente.
A Secretaria Nacional de Segurança desapareceu — onde anda? O que faz? . Sei que a tese é polêmica, recusada por muitos militares — alguns deles, meus amigos —, mas a questão das favelas do Rio é de controle do território, como ficou evidente ontem. E se trata de uma guerra interna, sim. É a Constituição que assegura às Forças Armadas o papel de guardiãs da Constituição, violada permanentemente nos morros que estão sob o controle do tráfico. E elas têm de atuar.
Isso estará resolvido até 2016? Ninguém precisa adivinhar o futuro para dizer um sonoro “Não!”. Ainda que se elimine a pobreza nos próximos sete anos, o crime não estará eliminado. Se os morros do Rio se convertessem em paraísos, seriam paraísos dominados pelos narcotraficantes se ninguém subisse lá para tirar a bandeira dos “comandos” e hastear a bandeira do Brasil.
O que aconteceu ontem no Rio representa um golpe de realidade na fantasia. É claro que se pode realizar a Olimpíada mesmo assim. Basta que se faça o que se fez em outras ocasiões, quando a cidade sediou eventos internacionais: ocupe-se militarmente a área por um tempo, e o crime recolhe as suas armas. Até que os soldados deixem o Rio. E os trabalhadores pobres serão, então, devolvidos a seus verdadeiros donos.
O fato é que continuaremos a assistir a esses espetáculos grotescos enquanto o crime for visto como mais uma das manifestações do nosso lirismo."


Este é o verdadeiro Rio de Janeiro, uma realidade que nem as mais brilhantes lentes de Fernando Meirelles conseguem esconder.

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